Manuscrito de:
Rilder Medeiros - rilder@oficinadanoticia.com.br
Rilder Medeiros
Jornalista, palestrante e consultor em comunicação e marketing.
Quarta-Feira, 11/Janeiro/2006
Por uns três anos seguidos, dei várias palestras para dentistas e médicos ajudando-os a aplicar os conceitos de marketing, numa tentativa de transformar seus consultórios em bons negócios. O conteúdo das palestras para os dentistas não era muito diferente do que apresentava aos médicos, e o objetivo final era fazê-los obter mais rentabilidade na profissão.
A avaliação das palestras era sempre boa. Ao final, médicos e dentistas, na maioria das vezes, elogiavam e agradeciam os toques e orientações. Até que um dia um médico obstetra me chamou a atenção com uma observação. Com muita objetividade, ele disse-me que o que estava precisando naquela hora não era simplesmente ganhar mais dinheiro, mas ter uma vida com qualidade.
Por que isso? Alternando plantões, passando horas no consultório, saltando de um hospital para outro, esse médico, com pouco mais de 15 anos de profissão, e um bom dinheiro no bolso, passava até três dias sem ver os filhos e a esposa mesmo morando em Natal, uma cidade linda e relativamente pequena.
Lembrei desse episódio agora, porque, conversando com dois amigos hoje um deles meu cliente eles disseram-me, com todas as letras, que não estão agüentando a vida que têm. Embora tenham tudo o que muitos desejam. A explicação para esse drama, comum a bastante gente, encontro na tese de um outro amigo. Ele diz que somos reféns da estrutura que criamos.
Na explicação desse amigo, com a qual concordo, vamos construindo ao longo da vida uma estrutura de necessidades que nos consome, oferecendo-nos prazer efêmero como se fosse felicidade.
A tv não basta ter apenas controle remoto, precisa também de uma enorme tela plana. Cinco canais de tv aberta já não são suficientes para os 60 minutos que passamos no sofá. Precisamos de pelo menos uns 80. O celular não é um telefone se não tocar mp3 e gravar vídeos. O perfume não basta ser francês, precisa ser “daquela” marca. O carro..ihh, aí nem se fala!
Ouvindo a história e as angústias do amigo-cliente, sugeri que ele pusesse num papel as cinco coisas que mais gosta de fazer. Na hora, ele percebeu que há algum tempo está bem distante delas. Aos dois amigos perguntei: quanto você realmente precisa pra viver uma vida feliz, fazendo o que gosta? A resposta veio para eles, e para mim, como uma surpresa. Muito menos do que ganham hoje.
Se algum dia pudéssemos levar essa reflexão à prática, talvez acabássemos trabalhando menos e teríamos mais tempo para nós mesmos e para, quem sabe, poder estar bem perto de quem amamos.
Tão importante quanto saber ganhar, é saber gastar o dinheiro que ganhamos. Mas isso é tema para um outro manuscrito!