sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Raridade - Saiba

Estes são réplicas dos primeiros selos postais brasileiros, conhecidos popularmente e no mundo filatélico como “olho-de-boi”, por sua aparência. Foram emitidos em 1º de agosto de 1843, com valores de 30, 60 e 90 réis. O tamanho deles não ultrapassa 3 x 3 centímetros. É um pouco maior que a unha do polegar de um adulto. Quanto você pagaria por uma dessas “coisinhas” chamadas de realidade pelos colecionadores? Cinco reais? Vinte? Cem?  Pois no ano passado um colecionador (cujo nome quer que seja mantido em sigilo) pagou 2 milhões e 500 mil reais por um selinho desses. Se fosse carimbado, valeria o dobro.

Interessante

Marc Ferrez vê o povo brasileiro

Marc Ferrez (1843-1923) foi testemunha das profundas transformações da segunda metade do século XIX. Assistiu o apogeu e o declínio do segundo Império. Viu através de suas lentes o surgimento da República e o alvorecer dos anos 1900, quando o impacto da urbanização acelerada pôs abaixo parte substantiva do casario colonial do Rio de Janeiro, à época capital do país.

Suas fotos, que compreendem o longo período de 1865 a 1918, testemunham um país que se desenvolvia, sem, contudo, romper com as seculares amarras da exclusão social e da miséria, herança da escravidão que até hoje teima em persistir. Não é por acaso que o Brasil do século XXI ainda ostenta o triste título de um dos 10 países mais desiguais do mundo.

Marc Ferrez, fotográfo da realeza e das elites aristocráticas, resolveu não ficar cego ao país realmente existente. Um dia, lá pelos meados da década de 1890, ganhou as ruas do Rio de Janeiro para documentar o povo brasileiro, humilde e sofredor, que sobrevivia do comércio ambulante. Foi assim que nasceu uma série fotográfica que é um tratado antropológico daqueles tempos tão velozes e, ao mesmo tempo, tão conservadores, quando tratou-se de fazer o país crescer, ampliando e aprofundando o fosso entre a Casa Grande e a Senzala.

Saem de cena as paisagens idílicas ou as gigantescas obras de intervenção urbanística. Surgem, impávidos, seres humanos normais, maltrapilhos, descalços, com olhares um tanto perdidos diante daquela lente invasora.

Jornaleiros - 1899
Vale realmente a pena passear por essas imagens de ex-escravos - reduzidos à condição de cesteiros ou vendedores de doces; mulheres dispostas a conquistar sua sobrevivência (e, quem sabe, sua independência do controle patriarcal); vendedores de frutas e bugingangas, quase equilibristas; e, na talvez mais eloquente imagem, uma dupla de jornaleiros, crianças submetidas ao duro trabalho infantil, com suas roupas em petição de miséria, enquanto nas mãos os periódicos da época deviam anunciar as boas-novas de um progresso que jamais as alcançou.


Para conhecer outras obras de Marc Ferrez, acesse aqui